domingo, 11 de octubre de 2009

Cidades passeáveis


Quando falamos em caminhabilidade ou passeabiliadade, muitos interpretam isso como futilidade, pois o passear se pode associar facilmente ao ir-se a algum lugar sem motivos, passear, é algo sem compromissos...

Não é bem esse o significado da expressão ou termo. Já definimos o conceito e tem que ver em verdade com o grau de qualidade que tem a cidade, o bairro ou a rua ou praça em acolher os deslocamentos dos cidadãos que em principio deveriam ser feitos a pé.

Assim, estão em jogo as possibilidades de interações entre os cidadãos, mas também a qualidade física do passeio. Sua superfície, ou seja, por onde caminham as pessoas.


Existem vários critérios que podemos adotar para avaliar este quesito, que é apenas um dos componentes da caminhabiliade pois, além disso, está o meio ambiente, como a presença de pontos de atração (lojas, cafés, locais de trabalho, bibliotecas, etc..) e claro a possibilidade de encontrar pessoas e de contato social (conhecidos e não conhecidos).

Ainda a questão ambiental propriamente dita como a presença de árvores ou marquises (que moderam o vento, o sol, a chuva) e o nível de contaminação acústico e de poluição atmosférica.

Cidades humanas são aquelas em que a sociedade caminha, se mistura e se dissemina a cultura do convívio harmônico entre todos seus cidadãos. Claro que a cultura imposta pela sociedade atual e as diferenças sociais quando acentuadas, são fatores a serem superados para que possamos chegar a este nível.

No caso de Curitiba, vale lembrar, que a péssima qualidade do meio físico como a superfície ou o revestimento das calçadas, já de largada, funciona de maneira negativa para que se possa alcançar um índice de passeabilidade que se possa dizer aceitável.

Uma condição adquirida ao longo do tempo, que foi ainda mais acentuada com a promulgação da lei que determina a responsabilidade de fazer, manter, etc. à calçada por conta do proprietário, deixando assim a possibilidade de descontinuidade (ao menos dos padrões de qualidade), de morador a morador.

Imaginem se a rede elétrica das ruas fosse assim também: - cada morador fizesse em frente de sua casa, como seria a situação?!... Parece absurdo, mas é exatamente a mesma coisa. O que está no meio público deve ser de responsabilidade dos serviços públicos. Nunca chegaremos a ter uma boa caminhabilidade se não tivermos boas calçadas.

Tivemos a oportunidade de trabalhar no projeto chamado “walkable cities” ou as “cidades passeáveis”, que foi coordenado pelo Dr. Júlio Pozueta Echavarri na ETSAM/UPM, que estudou e propôs um manual para o desenho de novos espaços urbanos que tenham como qualidade a caminhabilidade, sendo essa talvez (ou sem dúvida) a principal qualidade física que se pode dotar um local para acolher as atividades humanas, ou seja o espaço público.

Neste trabalho, cujo manual será publicado em 2010 pelo CEDEX, foram realizados vários experimentos com uma gama de variáveis sobre o comportamento e as respostas em função das qualidades físico-sociais dos espaços urbanos e estou seguro que devemos seguir na direção destes resultados.

1 comentario:

  1. Beto,
    Vivo em uma cidade em que o caminhar é obrigatório, mesmo que seja para sair de uma estação de metrô, trem de superfície ou ônibus para outra estação, daí para o trabalho e para casa. Tóquio (ou Tokyo, como você prefere), tem as suas calçadas tratadas como se fossem a grama dos jardins do Palácio Imperial pois não apenas os familiares dos nobres são respeitados.
    Por aqui é difícil (eu poderia dizer impossível)achar buracos a céu aberto ou obras abandonadas; calçadas com remendos aparentes que causem desnivelamento ou propiciem acidentes jamais são encontradas. Não é possível argumentar que, por ser a 2a. Economia do planeta o tratamento é possível: é uma questão de respeito, afinal em Curitiba os serviços são pagos aos empreiteiros, a obra não é liberada sem licitação ou verba para ela destinada. Falta-nos vergonha, falta vontade política de governar para a população, antes de governar para eleitores.
    Um empresário japonês que esteve comigo no Brasil há meses, comentou que "isso é coisa de BRICs, é assim na India, China e Russia", sobre as calçadas de São Paulo (pois é, claro que não é só Curitiba mas na Capital das Araucárias dói mais por se achar padrão urbanístico e cidade de primeiro mundo).
    Qual é a solução?

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