Mobilidade urbanaCaminhar em vez de usar o carro. O desafio da Gazeta do Povo para motoristas convictos mostra como o pedestre contorna o caos do trânsitoPublicado em 20/09/2010Gabriel Azevedo, especial para a Gazeta do Povo
“Após essa semana, passei a considerar a mudança de hábito. Acho que posso sim trocar o carro pela caminhada, mas com algumas ressalvas”. Leonardo Moraes, analista de sistemas
Proprietário de um Volkswagen Polo, ano 2004, o analista de sistemas Leonardo Moraes, 26 anos, é um dos três curitibanos que aceitaram mudar de modal de transporte por uma semana, conforme proposta da Gazeta do Povo, para marcar a passagem do Dia Sem Carro, no dia 22 de setembro. Apesar de praticar esportes de contato, ele não é adepto de caminhadas e nunca foi de sair a pé pelas ruas para explorar a cidade. Quando soube do desafio “Deixei meu carro em casa e...”, viu uma oportunidade de encostar o automóvel na garagem e fazer uma atividade tão natural para o ser humano: andar. E não foi difícil.
O jovem analista, durante as caminhas entre a residência, no Batel, e o trabalho, no Centro Cívico, aproveitou para pensar na vida e observar o cenário, em detalhes que normalmente ficam escondidos atrás do vidro fumê do carro. “Durante as caminhadas, pude conferir o que eu perco ao usar o automóvel. Curitiba é uma cidade cosmopolita e isso se nota em cada paisagem, nas pessoas que cruzam conosco no cotidiano”, afirma.
A opção pela caminhada também teve reflexos físicos. “Chegava um pouco suado no trabalho no começo, mas com o tempo diminuiu. Percebi que meu rendimento melhorou com a caminhada, fiquei mais focado no trabalho e mais paciente para resolver os problemas”, comenta.
A opção pela caminhada também teve reflexos físicos. “Chegava um pouco suado no trabalho no começo, mas com o tempo diminuiu. Percebi que meu rendimento melhorou com a caminhada, fiquei mais focado no trabalho e mais paciente para resolver os problemas”, comenta.
Na opinião do engenheiro civil Roberto Ghidini, especialista em infraestrutura rodoviária e mobilidade urbana, caminhar tem muitas vantagens. “Todos somos pedestres. A caminhada torna as ruas mais seguras, ao aumentar a presença de gente; é barato; é bom para o meio ambiente; reduz a demanda de infraestruturas para o transporte; melhora a saúde e a qualidade de vida”, diz.
Apesar de ter gostado demais da semana e rever totalmente os seus conceitos sobre o automóvel, nem tudo foi maravilhoso. Segundo Moraes, as calçadas em péssimo estado de conservação e a falta de respeito dos motoristas são problemas graves. “Após esta semana, passei a considerar a mudança de hábito. Acho que posso sim trocar o carro pela caminhada, mas com algumas ressalvas. Não pode chover, por exemplo. Por sorte não peguei nenhum dia de chuva, mas acredito que nesta situação a caminhada fica complicada, principalmente pelas calçadas em péssimo estado de conservação, que ficam escorregadias”, diz.
Calçadas
Curitiba tem vários modelos de pavimentação para as calçadas. E, de acordo com a legislação do município, a construção e conservação do passeio são de responsabilidade dos proprietários. “O padrão de várias ruas de Curitiba é a “pedra lascada” e o petit pavé, algo que fica entre o neolítico e o mundo feudal. O nível de conforto ao usuário é nulo. Existem poucas calçadas em Curitiba que conseguem responder ao quesito conforto de forma satisfatória. Com relação à fluidez e a segurança, há problemas de interferência do mobiliário urbano que, por vezes, impedem o fluxo de forma aceitável e podem ser obstáculos causadores de acidentes”, afirma Ghidini.
Curitiba tem vários modelos de pavimentação para as calçadas. E, de acordo com a legislação do município, a construção e conservação do passeio são de responsabilidade dos proprietários. “O padrão de várias ruas de Curitiba é a “pedra lascada” e o petit pavé, algo que fica entre o neolítico e o mundo feudal. O nível de conforto ao usuário é nulo. Existem poucas calçadas em Curitiba que conseguem responder ao quesito conforto de forma satisfatória. Com relação à fluidez e a segurança, há problemas de interferência do mobiliário urbano que, por vezes, impedem o fluxo de forma aceitável e podem ser obstáculos causadores de acidentes”, afirma Ghidini.
Segundo o engenheiro, a calçada é um dos quesitos necessários para promover mobilidade. “O conforto só é alcançado com uma calçada que tenha padrões de continuidade, que seja de superfície plana e ao mesmo tempo não escorregadia, que tenha uma declividade moderada, que tenha proteção do sol, da chuva e do frio”, explica.
Marcio Augusto de Toledo Teixeira, chefe do setor de Projetos Viários do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), afirma que todos os projetos viários elaborados para a cidade contemplam mudanças significativas a favor do pedestre e pessoas com necessidades especiais e atendem às normas vigentes quanto a acessibilidade. “As mudanças nos padrões de calçada estão ocorrendo gradativamente devido à grande malha viária existente. Reconhecemos o problema e estamos trabalhando para melhorias”.
A Lei 1.1596/05, que apresenta regras sobre construção, reconstrução e conservação de calçadas, criou também o Programa Caminhos da Cidade e o Fundo de Recuperação de Calçadas. A legislação divide a responsabilidade sobre as calçadas com os proprietários de lotes e cria mecanismos para projetos de reformas.
Na opinião do engenheiro civil André Caon, presidente da Sociedad Peatonal, uma organização não governamental de pedestres, é preciso organizar a cidade para que seus cidadãos consigam viver dentro de seu raio de caminhabilidade, conceito que avalia as condições adequadas das calçadas para deslocamentos a pé, como pavimento, desobstrução e iluminação. “Minha mãe viveu sua vida toda sem jamais usar o automóvel. Ela atendeu o marido, criou três filhos e gerenciou um estabelecimento comercial. Para viver sem o automóvel, ela organizou sua vida dentro de seu raio de caminhabilidade”.
Saiba mais
Diário do desafio
Risco
Falta de respeito é o pior problema
Para o engenheiro civil André Caon, o desrespeito do motorista com o pedestre, principalmente em relação à faixa de travessia, é uma questão cultural e foi sendo massificada no Brasil. “O motorista definitivamente não respeita o pedestre, é um ser individualista e isso é um problema difícil de ser combatido, principalmente pela falta de fiscalização”, afirma.
Diário do desafio
Risco
Falta de respeito é o pior problema
Para o engenheiro civil André Caon, o desrespeito do motorista com o pedestre, principalmente em relação à faixa de travessia, é uma questão cultural e foi sendo massificada no Brasil. “O motorista definitivamente não respeita o pedestre, é um ser individualista e isso é um problema difícil de ser combatido, principalmente pela falta de fiscalização”, afirma.
Mudanças no padrão de comportamento dos motoristas são possíveis mas, na opinião do engenheiro civil Roberto Ghidini, o poder público precisa se esforçar em campanhas de educação para o trânsito. “Devemos tentar e ser insistentes no assunto, caso contrário, teremos cada vez mais a destruição das zonas de uso dos pedestres em favor ao uso do carro”, diz.
Os números comprovam a falta de respeito. Segundo dados da prefeitura, um atropelamento é registrado em Curitiba a cada 10 horas. Entre julho e agosto deste ano, 2.675 infrações de invasão da faixa de pedestres foram flagradas por 41 radares da capital. No mesmo período, os equipamentos marcaram 10.122 infrações de avanço de sinal vermelho.
Segundo Marcos Isfer, presidente Urbs, o setor de Educação e Mobilidade da entidade tem uma campanha específica para o respeito à faixa de pedestre, com material e equipes que fazem abordagens nos principais cruzamentos da cidade. “Neste ano, uma das atividades da Semana Nacional de Trânsito, será a pintura de faixas de pedestres por artistas da cidade. É uma maneira lúdica de chamar a atenção dos motoristas e também dos pedestres”, conta.
Outros focos da campanha da Semana do Trânsito 2010 são o uso do cinto de segurança e da cadeirinha para crianças. Mas o pedestre é o principal objetivo de ações permanentes. “Temos implantado as chamadas faixas de travessia elevadas. A faixa elevada tem a mesma altura da calçada e por isso deixa o pedestre mais visível e obriga os motoristas a reduzir a velocidade”, explica. (GA)
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