martes, 28 de septiembre de 2010

Cidades, pedestres e transporte público



Parte da palestra realizada no SEMINÁRIO INTERNACIONAL "EXPERIÊNCIAS DE AGENDAS 21: OS DESAFIOS DO NOSSO TEMPO" – PONTA GROSSA, 27, 28 E 29 DE NOVEMBRO DE 2009 - MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL SITUAÇÃO ATUAL E PERSPECTIVAS NA ESPANHA: -
CATÁLOGO DE BOAS PRÁTICAS DO CEDEX.




Parece-nos necessário o reconhecimento, que a mobilidade é um dos principais focos dos problemas ambientais das cidades (perda dos espaços livres ao se converterem em estacionamentos, contaminação atmosférica, ruído, tensão urbana, etc.). Os planos urbanos deverão passar por restabelecer o equilíbrio entre os distintos meios de transporte, favorecendo o público frente ao privado e – sobretudo – reduzir na medida do possível o nível e as repercussões do uso do automóvel no interior das cidades.

Os pedestres devem ser reconhecidos em programas, planos e estratégias como os principais usuários das vias das cidades. Sem eles se perde o verdadeiro valor cenográfico da cidade e em conseqüência, a própria imagem da mesma. As políticas públicas devem consistir, mais que na criação de “reservas protegidas” (calçadões), na eliminação da grande quantidade de obstáculos surgidos pela própria ordenação do tráfego motorizado e na melhoria da qualidade das calçadas, compatível com a necessidade do deslocamento acessível a todos. Neste sentido e assumindo que a bicicleta é o veículo ecologicamente correto, deve-se ter em conta a incorporação prévia, deste modo de transporte nas estratégias globais de mobilidade.

Uma planificação urgente e a nível regional e local, para o transporte público, a fim de frear a queda de seu uso, verificado nos últimos anos. Reconhecemos que o aumento da eficácia dos transportes públicos reduziria o uso do transporte privado. Indiscutivelmente, um plano de melhoria da qualidade do transporte público nas cidades, implicaria em um alto custo econômico, que sem dúvida, em médio prazo redundará em benefícios para a cidade. Somos conscientes, que algumas medidas necessárias e eficazes em curto prazo, implicariam em decisões difíceis e impopulares, arriscadas para o poder público que por vezes não quer se expor, mas que por outro lado, não se pode mais prorrogar, caso contrário seguiremos aumentando a congestão, a contaminação e o uso do veículo privado.

lunes, 27 de septiembre de 2010

Duas estaçoes…


Em Madrid, ao contrário de outras cidades e regiões do planeta, não temos as quatro estações do ano, que tão graciosamente Vivaldi retratou em sua composição com o mesmo título e que em sua melodia, podemos realmente sentir as flores e os pássaros da primavera e o colorido cálido da época do outono, além do rigor de um inverno frio e do calor pujante do verão.

Em Madrid, praticamente temos apenas o verão – quente sufocante, que nos toma o sono e nos plasma ao diário com suas tórridas e quase imutáveis temperaturas acima dos quarenta graus, nos meses de maio, junho, julho e agosto – e bem logo já no fim de setembro e até março o inverno, que vai dia após dia aumentando a intensidade e chegando às noites congeladas de janeiro e às nevadas de fevereiro.

Sobra, portanto abril e setembro que nada mais são na prática que meses de transição entre uma e outra estação. Mais de duas e aí 300 são as estações do Metrô...

martes, 21 de septiembre de 2010

Quem anda seus males espanta


Mobilidade urbana


Caminhar em vez de usar o carro. O desafio da Gazeta do Povo para motoristas convictos mostra como o pedestre contorna o caos do trânsito
Publicado em 20/09/2010
Gabriel Azevedo, especial para a Gazeta do Povo
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=1048210&tit=Quem-anda-seus-males-espanta

“Após essa semana, passei a considerar a mudança de hábito. Acho que posso sim trocar o carro pela caminhada, mas com algumas ressalvas”. Leonardo Moraes, analista de sistemas

Proprietário de um Volkswa­gen Polo, ano 2004, o analista de sistemas Leonardo Moraes, 26 anos, é um dos três curitibanos que aceitaram mudar de modal de transporte por uma semana, conforme proposta da Gazeta do Povo, para marcar a passagem do Dia Sem Carro, no dia 22 de setembro. Apesar de praticar esportes de contato, ele não é adepto de caminhadas e nunca foi de sair a pé pelas ruas para explorar a cidade. Quando soube do desafio “Dei­xei meu carro em casa e...”, viu uma oportunidade de encostar o automóvel na garagem e fazer uma atividade tão natural para o ser humano: andar. E não foi difícil.

O jovem analista, durante as caminhas entre a residência, no Batel, e o trabalho, no Centro Cívico, aproveitou para pensar na vida e observar o cenário, em detalhes que normalmente ficam escondidos atrás do vidro fumê do carro. “Durante as caminhadas, pude conferir o que eu perco ao usar o automóvel. Curitiba é uma cidade cosmopolita e isso se nota em cada paisagem, nas pessoas que cruzam conosco no cotidiano”, afirma.

A opção pela caminhada também teve reflexos físicos. “Chegava um pouco suado no trabalho no começo, mas com o tempo diminuiu. Percebi que meu rendimento melhorou com a caminhada, fiquei mais focado no trabalho e mais paciente para resolver os problemas”, comenta.


Na opinião do engenheiro civil Roberto Ghidini, especialista em infraestrutura rodoviária e mobilidade urbana, caminhar tem muitas vantagens. “Todos somos pedestres. A caminhada torna as ruas mais seguras, ao aumentar a presença de gente; é barato; é bom para o meio ambiente; reduz a demanda de infraestruturas para o transporte; melhora a saúde e a qualidade de vida”, diz.

Apesar de ter gostado de­­mais da semana e rever totalmente os seus conceitos sobre o automóvel, nem tudo foi maravilhoso. Segundo Moraes, as calçadas em péssimo estado de conservação e a falta de respeito dos motoristas são problemas graves. “Após esta semana, passei a considerar a mudança de hábito. Acho que posso sim trocar o carro pela caminhada, mas com algumas ressalvas. Não pode chover, por exemplo. Por sorte não peguei nenhum dia de chuva, mas acredito que nesta situação a caminhada fica complicada, principalmente pelas calçadas em péssimo estado de conservação, que ficam escorregadias”, diz.


Calçadas
Curitiba tem vários modelos de pavimentação para as calçadas. E, de acordo com a legislação do município, a construção e conservação do passeio são de responsabilidade dos proprietários. “O padrão de várias ruas de Curitiba é a “pedra lascada” e o petit pavé, al­­go que fica entre o neolítico e o mundo feudal. O nível de conforto ao usuário é nulo. Existem poucas calçadas em Curitiba que conseguem responder ao quesito conforto de forma satisfatória. Com relação à fluidez e a segurança, há problemas de interferência do mobiliário urbano que, por vezes, impedem o fluxo de forma aceitável e podem ser obstáculos causadores de acidentes”, afirma Ghidini.

Segundo o engenheiro, a calçada é um dos quesitos necessários para promover mobilidade. “O conforto só é alcançado com uma calçada que tenha padrões de continuidade, que seja de superfície plana e ao mesmo tempo não escorregadia, que tenha uma declividade moderada, que tenha proteção do sol, da chuva e do frio”, explica.

Marcio Augusto de Toledo Teixeira, chefe do setor de Projetos Viários do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), afirma que todos os projetos viários elaborados para a cidade contemplam mudanças significativas a favor do pedestre e pessoas com necessidades especiais e atendem às normas vigentes quanto a acessibilidade. “As mudanças nos padrões de calçada estão ocorrendo gradativamente devido à grande malha viária existente. Reconhecemos o problema e estamos trabalhando para melhorias”.


A Lei 1.1596/05, que apresenta regras sobre construção, reconstrução e conservação de calçadas, criou também o Programa Cami­nhos da Cidade e o Fundo de Recuperação de Calçadas. A legislação divide a responsabilidade sobre as calçadas com os proprietários de lotes e cria mecanismos para projetos de reformas.


Na opinião do engenheiro civil André Caon, presidente da Sociedad Peatonal, uma organização não governamental de pedestres, é preciso organizar a cidade para que seus cidadãos consigam viver dentro de seu raio de caminhabilidade, conceito que avalia as condições adequadas das calçadas para deslocamentos a pé, como pavimento, desobstrução e iluminação. “Minha mãe viveu sua vida toda sem jamais usar o automóvel. Ela atendeu o marido, criou três filhos e gerenciou um estabelecimento comercial. Para viver sem o automóvel, ela organizou sua vida dentro de seu raio de caminhabilidade”.


Saiba mais
Diário do desafio
Risco
Falta de respeito é o pior problema
Para o engenheiro civil André Caon, o desrespeito do motorista com o pedestre, principalmente em relação à faixa de travessia, é uma questão cultural e foi sendo massificada no Brasil. “O motorista definitivamente não respeita o pedestre, é um ser individualista e isso é um problema difícil de ser combatido, principalmente pela falta de fiscalização”, afirma.

Mudanças no padrão de comportamento dos motoristas são possíveis mas, na opinião do engenheiro civil Roberto Ghidini, o poder público precisa se esforçar em campanhas de educação para o trânsito. “Devemos tentar e ser insistentes no assunto, caso contrário, teremos cada vez mais a destruição das zonas de uso dos pedestres em favor ao uso do carro”, diz.

Os números comprovam a falta de respeito. Segundo dados da prefeitura, um atropelamento é registrado em Curitiba a cada 10 horas. Entre julho e agosto deste ano, 2.675 infrações de invasão da faixa de pedestres foram flagradas por 41 radares da capital. No mesmo período, os equipamentos marcaram 10.122 infrações de avanço de sinal vermelho.

Segundo Marcos Isfer, presidente Urbs, o setor de Educação e Mobilidade da entidade tem uma campanha específica para o respeito à faixa de pedestre, com material e equipes que fazem abordagens nos principais cruzamentos da cidade. “Neste ano, uma das atividades da Semana Nacional de Trânsito, será a pintura de faixas de pedestres por artistas da cidade. É uma maneira lúdica de chamar a atenção dos motoristas e também dos pedestres”, conta.

Outros focos da campanha da Semana do Trânsito 2010 são o uso do cinto de segurança e da cadeirinha para crianças. Mas o pedestre é o principal objetivo de ações permanentes. “Temos implantado as chamadas faixas de travessia elevadas. A faixa ele­­vada tem a mesma altura da calçada e por isso deixa o pedestre mais visível e obriga os motoristas a reduzir a velocidade”, explica. (GA)

martes, 7 de septiembre de 2010

Do contraditório como terapêutica de libertação.


Texto extraído de citaçoes e pensamentos de Fernando Pessoa.


...O homem disciplinado e culto faz de sua sensibilidade e de sua inteligência espelhos do ambiente transitório: é republicano de manhã, monárquico ao crepúsculo; ateu sob o sol descoberto e católico ultramontano a certas horas de sombra e de silencio; e, não podendo admitir senão Mallarmé [1] àqueles momentos do anoitecer citadino em que desabrocham as luzes, ele deve sentir todo o simbolismo uma invenção de louco quando, ante uma solidão de mar, ele não souber de mais do que da Odisséia.

Convicções profundas, só as têm as criaturas superficiais. Os que não reparam para as coisas quase que as vêem apenas para não esbarrar com elas, esses são sempre da mesma opinião, são os íntegros e os coerentes. A política e a religião gastam dessa lenha, e é por isso que ardem tão mal ante a Verdade e a Vida.

Quando é que despertaremos para a justa noção de que política, religião e vida social são apenas graus inferiores e plebeus da estética – a estética dos que ainda a não podem ter? Só quando uma humanidade livre dos preconceitos de sinceridade e coerência tiver acostumado as suas sensações a viverem independentemente, se poderá conseguir qualquer coisa de beleza, elegância e serenidade na vida.


[1] Stéphane Mallarmé se utilizava dos símbolos para expressar a verdade através da sugestão, mais que da narração. Sua poesia e sua prosa se caracterizam pela musicalidade, a experimentação gramatical e um pensamento refinado e repleto de alusões que pode resultar em um texto às vezes obscuro.